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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Pensamentos de Clarice Lispector ( III )

Porque há o direito ao grito.
Então eu grito.

O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Porque é uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde.

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore.
Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos.

Eu não sou promiscua.
Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscópicamente registro.

E se me achar esquisita, respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar.

Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.

Ter nascido me estragou a saúde.

Sinto a falta dele como se me faltasse um dente na frente: excrucitante.

...e ela cada vez maior, vacilante, túmida, gigantesca
se conseguisse chegar mais perto de si mesma, ver-se-ia ainda maior...
e em cada olho podia-se-lhe mergulhar dentro e nadar sem saber que era um olho...

...sua sensibilidade incomodava sem ser dolorosa, como uma unha quebrada.
e se quisesse podia permitir-se o luxo de se tornar ainda mais sensível, ainda podia ir mais adiante...

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