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terça-feira, 19 de novembro de 2019

A Minha Piedade

A Bourbon e Meneses 

Tenho pena de tudo quanto lida
Neste mundo, de tudo quanto sente,
Daquele a quem mentiram, de quem mente,
Dos que andam pés descalços pela vida, 


Da rocha altiva, sobre o monte erguida,
Olhando os céus ignotos frente a frente,
Dos que não são iguais à outra gente,
E dos que se ensangüentam na subida! 


Tenho pena de mim... pena de ti...
De não beijar o riso duma estrela...
Pena dessa má hora em que nasci... 


De não ter asas para ir ver o céu...
De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela...
De ter vivido e não ter sido Eu... 


Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

1 comentário:

Mau disse...

Bem feliz em saber que ainda há resistência e temos cultura! Parabéns!