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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Gazel da Lembrança de Amor

Tua lembrança não leves.
Deixa-a sozinha em meu peito,
 
tremor de alva cerejeira
no martírio de janeiro. 


Dos que morreram separa-me
um muro de sonhos maus. 


Dou pena de lírio fresco
para um coração de gesso. 


A noite inteira, no horto,
meus olhos, como dois cães. 


A noite inteira, correndo
os marmelos de veneno. 


Algumas vezes o vento
uma tulipa é de medo,
é uma tulipa enferma
a madrugada de inverno. 


Um muro de sonhos maus
me afasta dos que morreram. 


A névoa cobre em silêncio
o vale gris de teu corpo. 


Pelo arco do encontro
a cicuta está crescendo. 


Mas deixa tua lembrança,
deixa-a sozinha em meu peito. 


Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'
Tradução de Oscar Mendes 

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