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sábado, 6 de outubro de 2018

ÚTERO


Soltam-se gritos do meu corpo
como fluídos nesta metamorfose de palavras absurdas
de bêbados conversando madrugada fora
enquanto sabes que estou na esquina mais oblíqua
junto com a prostituta e o desertor.


Sim, claro que bebo um copo com os que se embriagaram um pouco mais,
sejam eles inteligentes e me falem de filosofia, ou
simplesmente me façam gargalhar.


Que quereis de mim se sou peregrina de todas as marés
e todos estes espasmos ousados no ventre de minha Mãe!


Poderia agora ser útero?
Sim, útero do útero de todas as fêmeas e ainda assim
deixar mais um resplandecente e puro!


Todos os gritos se soltam de mim.
como meus ossos e tendões no tudo que sonhei
com a certeza que as crianças possuem ao nascer
magníficas coroas de lírios na cabeça
e gargalhadas nos pés.


Deixem que seja assim, que todos os gritos se soltem da minha cabeça,
 já sem lírios
ou açucenas,
já sem conchas, maresia ou paixão.


Sou este silêncio de morte
onde me amas ainda.
Onde me prostrei sem qualquer música
e me rendi ao sonho de estar para sempre lúcida
ainda que saboreando maçãs
dormindo.


Célia Moura
Patrick Odorizzi photography

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