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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Reflexos


Minha Mãe me pariu
Em dia de quarto crescente
Espreitavam as feiticeiras
Das velhas cortinas
Enquanto o restolho bailava na eira.


O mundo, estava aceso como sempre
E eu prometida aos braços da mais
Vil puta da Terra
Em rituais de orgia,
Simplesmente acontecia.

Trouxe os gritos de parto de minha Mãe
Desde o menor ao maior,
Trouxe o rebentar das águas
Como uma onda leve a beijar a enseada
E a marca dos fórceps na alma,
Que me obrigaram a vir.

Demónios e anjos vibraram de alegria e me deram as boas-vindas,
Num brinde à puta que me haveria de acolher e à morte
Minha única certeza.
Satã vibrou, ganiu, urrou, se embriagou pelas praças,
Mas a criança que nascia jamais lhe pertenceria,
Ainda que parida em manhã de maldição
E gritos de agonia.

Erato com sua lira me aguardava um pouco mais adiante…
Fez-me tranças nos cabelos, derramou sobre minha cabeça
Cânticos de vento e de luz
E ao som da lira me amamentou.

Distracção faz surgir o vulto da velha Prostituta,
Como ela me anseia voraz!

Mas vem uma espada que corta o caminho
Ressoam os gritos de parto de minha Mãe
Me aninho ao som da lira
Danço e rebolo nua na eira
Para me dar às estrelas em noite de lua cheia.

Célia Moura, a publicar "Terra De Lavra"
Célia Moura


1 comentário:

Antonio Ferreira Monteiro disse...

Belo poema puro e natural,parabéns Célia.