Prostrada estás, na berma da longa estrada com teus sofridos trajes nupciais
defronte ao precipício esvoaçando agonia entre as mãos
clamando compaixão à solidão entre rochedos de alfazema.
Mas, há sempre uma voz um permanecente sussurro
vindo do próprio abismo que ecoa e grita:
– Não!
– Não estás sozinha!
A VOZ
Erguidos, em estandarte de silêncio. Essência de vossas almas, concebida
Qual seiva de Vida. Acolhei-nos. Ó voluntariosas hastes. Ao céu erguidas
Despidas. Amparando a desconhecida voz
Defronte à derrocada. Súbito temor das madrugadas!
Sois decerto, consolação bendita. Estremecendo Luz entre os cardos
No Jardim do firmamento. Beijando alheias preces
Já vencidas!
Ó companheiros da ternura. Cúmplices da árdua jornada
Rasgando a silenciosa dor. Vinde!
Sois excelsa dádiva. Acariciando o pranto ao desesperado grito
Tão aflito. De todas as mutiladas aves.
Vinde e bebei de todas as nascentes. O humilde Bem.
Memorial consagrado. Derramando mel de rosmaninho
Ao ventre dos temporais!
Comemorai pois a ousadia de serdes ventura,
vigiai somente o instante em que as gaivotas partem do Cais!
Ó voluntariosos do Amor Maior
Celebremos cânticos em taças de Lua Cheia,
Brindemos à valsa das flores silvestres
Rasgo de eternidade!
Pois, quão sublime é o dom de Amar
Ir além do possível e regressar!
Atenta, ó peregrina!
– Não estás sozinha!
Ergue tuas mãos ao céu, lança ao precipício a agonia gemendo ainda
E vai! Mesmo que a imagem do feudo e do fel persista, ecoa a Voz!
Afaga o vento, equilibra-te na própria dor,
E vai mais um pouco, além de ti
Enquanto a Luz te aconchegar
Num cálido sussurro, ou num desconhecido grito,
Que por ti se revolve perdido em alto mar.
Ainda que seja naúfraga de ti,
Escuta
Não percas o eco da Voz!
Célia Moura
1 comentário:
Muito bom.
Enviar um comentário