Vivemos em Moçambique anos
terríveis de guerra e de desespero.
Quando me
perguntam como sobrevivemos
a esse tempo, as pessoas se apressam a
falar
da esperança.
E dizem: pois é, a esperança é a última a morrer.
É
isso que se diz.
Contudo, não é verdade.
A esperança é o mais frágil dos
sentimentos,
um dos primeiros a desvanecer.
Ela morre, porém, no
sentido que
os africanos têm da morte.
Quer dizer, ela morre mas não
fica morta.
Continua vivendo entre nós, do nosso lado.
E vai comandando,
secreta e
subtilmente, processos e destinos.
A esperança não é a última
a morrer ainda
que possa ser a primeira a matar-nos.
E estaremos mortos
se aceitarmos conviver,
com cinismo, num mundo em que fazemos de conta
acreditar.
Mia Couto, in 'Pensatempos'

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