loading...

quinta-feira, 30 de abril de 2020

A esperança é o mais frágil dos sentimentos

Vivemos em Moçambique anos
terríveis de guerra e de desespero.
Quando me perguntam como sobrevivemos
a esse tempo, as pessoas se apressam a falar
da esperança.
E dizem: pois é, a esperança é a última a morrer.
É isso que se diz.
Contudo, não é verdade.
A esperança é o mais frágil dos sentimentos,
um dos primeiros a desvanecer.
Ela morre, porém, no sentido que
os africanos têm da morte.
Quer dizer, ela morre mas não fica morta.
Continua vivendo entre nós, do nosso lado.
E vai comandando, secreta e
subtilmente, processos e destinos.
A esperança não é a última a morrer ainda
que possa ser a primeira a matar-nos.
E estaremos mortos se aceitarmos conviver,
com cinismo, num mundo em que fazemos de conta acreditar.

Mia Couto, in 'Pensatempos'

Sem comentários: