loading...

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Que eu aprenda

Que eu aprenda tudo desde a morte, mas não me chamem por um nome 
nem pelo uso das coisas, colher, roupa, caneta, roupa intensa com 
a respiração dentro dela, e a tua mão sangra na minha,
brilha inteira se um pouco da minha mão sangra e brilha,
no toque entre os olhos, na boca, na rescrita de cada coisa já escrita 

nas entrelinhas das coisas, fiat cantus! 
e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra,
o canto comum-de-dois, o inexaurível,
o quanto se trabalha para que a noite apareça,
e à noite se vê a luz que desaparece na mesa,
chama-me pelo teu nome, troca-me, toca-me
na boca sem idioma, já te não chamaste nunca,
já estás pronta,
já és toda







Herberto helder
'A Faca não Corta o Fogo'
(Escolha de Hugo Pinto Santos)

Sem comentários: