Não há maneira.
Por mais boa vontade que tenham todos,
uma discussão
nesta santa terra portuguesa
acaba sempre aos berros e aos insultos.
Ninguém é capaz de expor as suas razões
sem a convicção de que diz a
última palavra.
E a desgraça é que a esta presunção do espírito
se junta
ainda a nossa velha tendência apostólica,
que onde sente um náufrago
tem de o salvar.
O resultado é tornar-se impossível qualquer
colaboração
nas ideias, o alargamento
da cultura e de gosto, e dar-se uma trágica
concentração de tudo na mesquinhez do individual.
Miguel Torga, in "Diário (1940)"
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