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sábado, 6 de junho de 2020

Escolher a Felicidade

Nem paz nem felicidade se recebem dos 
outros nem aos outros se dão. 
Está-se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer; 
como de um modo geral no viver, em que a única 
companhia possível é a daquele Deus a um tempo 
imanente e transcendente e a dos que neles estão, 
a de seus santos. 
Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos: 
aqui o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do 
mundo físico e do mundo do proceder e toda a 
experiência que vamos fazendo, negativa mesmo 
para todos, a podemos transformar em positiva. 
Para o fazermos, se exige pouco, mas um pouco 
que é na realidade extremamente difícil e que 
não atingiremos nunca por nossas próprias forças: 
exige-se de nós, primacialmente, a humildade; 
a gratidão pelo que vem, como a de um ginasta 
pelo seu aparelho de exercício; a firmeza e a serenidade 
do capitão de navio em sua ponte, sabendo que 
o ata ao leme não a vontade de um rei, como nos 
Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, 
revelada num servidor de servidores; finalmente, 
o entregar-se como uma criança a quem sabe o caminho. 
De qualquer forma, no fundo de tudo, o que há é um acto 
de decisão individual, um acto de escolha;
posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto.

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'


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