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sábado, 11 de julho de 2020

Não há Vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. 

O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema 

o gás
a luz 

o telefone
a sonegação do leite
da carne
do açúcar
do pão 


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário que esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras 


- porque o poema, senhores, está fechado:
   "não há vagas" 


Só cabe no poema 
o homem sem estômago
a mulher de nuvens 

a fruta sem preço 

    O poema, senhores,
    não fede
    nem cheira 


Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética'

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