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sábado, 31 de outubro de 2020

A Evidência da Morte

Às vezes ponho-me a pensar se a aceitação
calma da morte no homem da terra não
será o resultado desta íntima comunhão
com o ritmo da natureza.
No inverno, árvores despidas; na primavera,
folhas e flores; no verão, frutos.
No inverno seguinte, árvores despidas;
na primavera, folhas e flores; no verão, frutos.
No inverno a seguir...
Eu bem sei que o homem da cidade tem por
sua vez mil maneiras de notar este eterno
retorno da vida e da morte.
Parece-me é que ali a coisa não tem esta nitidez,
esta evidência, esta fatalidade.

Miguel Torga, in "Diário (1936)"

1 comentário:

vieira calado disse...

Torda, grande poeta.

E pessoa simples, ao que ouvi dizer!

Um abraço!