O povo está divorciado da cultura, e encolhe-se cada
vez mais na sua
fome e na sua ignorância.
Somos nós, os que saímos dele e o queremos
verdadeiramente
servir, que temos o dever de o procurar, de o
esclarecer,
de o interessar activamente na sua própria salvação.
Que lhe
importam os grandes livros, se ele os não pode nem sequer ler?
Que lhe
importam as grandes sinfonias, se ele as não sabe ouvir?
é urgente
chamar o povo à realidade nacional.
É preciso interessá-lo de verdade no
processo social,
onde ele tem o único papel que conta.
— Para isso?...
— Convidá-lo desde já a votar livre e claramente.
Chamá-lo a
determinar-se, a escolher os seus homens,
a responsabilizar-se no seu
destino,
— Esse destino é?...
— O destino de todos os corpos vivos: crescer,
multiplicar-se, procurar a
felicidade, e deixar no seu
caminho uma nítida e aberta marca de
compreensão e de amor.
Miguel Torga, in "Diário (1945)"
1 comentário:
Sem dúvida tão atual
Abraços poéticos.
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