loading...

sábado, 3 de julho de 2021

Contemplo o que não Vejo

Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro. 


Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém. 


Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso. 


Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou. 



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Muito bonito este poema de Fernando pessoa.
.
Feliz fim de semana … cumprimentos
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

José Pereira disse...

Obrigado amigo um fim de semana repleto de saúde e felicidade para vc e para os seus, um abraço.