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quinta-feira, 8 de julho de 2021

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem:
Um se beija no outro, reflectido.
Dois amantes que são? Dois inimigos. 


Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada. 


Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho. 


E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente. 


Carlos Drummond de Andrade, 
in 'Lição de Coisas'

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Poema lindíssimo que me fascinou ler.
.
Abraço sentido
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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