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sábado, 13 de novembro de 2021

Bem Sei, Amor, que é Certo o que Receio

Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
Mas tu, porque com isso mais te apuras,
De manhoso, mo negas, e mo juras
Nesse teu arco de ouro; e eu te creio. 


A mão tenho metida no meu seio,
E não vejo os meus danos às escuras;
Porém porfias tanto e me asseguras,
Que me digo que minto, e que me enleio. 


Nem somente consinto neste engano,
Mas inda to agradeço, e a mim me nego
Tudo o que vejo e sinto de meu dano. 


Oh poderoso mal a que me entrego!
Que no meio do justo desengano
Me possa inda cegar um moço cego? 


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

1 comentário:

Luiz Gomes disse...

Boa tarde José. Obrigado por dividir esse maravilhoso texto conosco. Bom início de semana.