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quarta-feira, 22 de maio de 2019

Depois de Te Haver Criado, a Natureza Pasmou

A mãe, que em berço dourado pôs teu corpo cristalino,
É sup'rior ao Destino, depois de te haver criado.
Quando Amor, o Nume alado, tua infância acalentou,
Quando os teus dias fadou, minha Lília, minha amada,
A mãe ficou encantada, a Natureza pasmou.

Deve dar breve cuidado, motivar grande atenção,
A um Deus a criação, depois de te haver criado.
Deve de ser refinado o engenho que ele mostrar
Desde o ponto em que criar; cuide nisto a omnipotência,
Porque, ao ver a sua essência, a Natureza pasmou.

Ao mesmo Céu não é dado (bem que tanto poder goza)
Criar coisa tão formosa depois de te haver criado.
Naquele instante dourado, rm que teus dotes formou,
Apenas os completou, arengando-lhe o Destino,
Em um êxtase divino a Natureza pasmou.

O Céu nos tem outorgado quanto outorgar-nos podia;
O Céu que mais nos daria depois de te haver criado?
Ninfa, das Graças traslado, ninfa, de que escravo sou,
Jove em ti se enfeitiçou, cheio de espanto e de gosto,
E absorta no teu composto a Natureza pasmou.

O teu rosto é adornado dos prodígios da beleza;
Foi um deus a Natureza depois de te haver criado.
Pôs em teu rosto adoçado a que nunca o Céu formou;
Ela a Jove envergonhou nesse deleitoso espanto,
E de ter subido a tanto a Natureza pasmou.

Todo o concílio sagrado do almo Olimpo brilhador,
Subiu a grau sup'rior depois de te haver criado.
Da meiga Vénus ao lado o teu ente a nós baixou,
Ente que Jove apurou, ente de todos diverso;
Assombrou-se o Universo, a Natureza pasmou.


Bocage, in 'Depois de te haver criado, A Natureza pasmou. (Décimas sobre dísticos)'

1 comentário:

Viviane Silveira disse...

Parabéns pelo trabalho com Poesia...