Vinicius de Moraes |
Porque nada te poderei dar senão a
mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer
coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o
teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu
ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma
gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como
uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás
a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e
tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os
dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros
nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
3 comentários:
Adorei..poesias...sempre fazem bem
Lindo!
Vinícius, o poetinha. maravilhoso.
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