Na taça que eu lavrei quero que bebas
O segredo profundo dos meus dias;
E, dona do que é meu, de mim recebas
Toda a riqueza que não conhecias.
A taça é branca como um véu sem cor,
E o segredo nimbado de vazio;
Quero que a veja pois o teu amor,
E bebas só dum trago o luar frio.
Quero, depois, que quebres o cristal
De encontro à fraga dura da lembrança
Do Poeta que fui ao natural
Junto de ti a trabalhar na herança.
Miguel Torga, in 'Diário (1943)'
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