loading...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Canção

A pastorinha morreu, todos estão a chorar.
Ninguem a conhecia e todos estão a chorar.

A pastorinha morreu, morreu de seus amôres.
Á beira do rio nasceu uma arvore e os
braços da arvore abriram-se em cruz.

As suas mãos compridas já não acenam de alêm.
Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.

Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguem.
Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.

Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho.
E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.

Onde estão os seus amôres?
 Ha prendas para Lhe dar.
Ninguem sabe se é Elle e ha prendas para Lhe dar.

Na outra margem do rio deu á praia
uma santa que vinha das bandas do mar.
Vestida de pastora p'ra se não fazer notar.
De dia era uma santa, à noite era o luar.

A pastorinha em vida era uma linda pastorinha;
a pastorinha mórta é a Senhora dos Milagres.

Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

Sem comentários: