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terça-feira, 23 de junho de 2020

Há nomes que ficam

Há nomes que ficam, sem préstimo, nas agendas,
transitam de ano para ano por inerência
ou desleixo, por vezes o nome próprio
é uma referência obscura, e nunca houve apelido.
 
Os números, em poucos anos, passam de 
mnemónicas a criptogramas, indicam sem 
dúvida que nos cruzámos com gente que se 
cruza connosco, que trocámos telefones  como se 
trocássemos alguma coisa, mas tudo muda,  os 
conhecidos tornam-se amigos e depois desconhecidos.

Estes nomes, posso riscá-los como se fosse velho e 
eles mortos, mas os números, como uma praga,
acumulam-se, escritos com tintas diferentes
e por vezes nas letras erradas.

Não posso desfazer-me das agendas nem começar 
uma todos os anos, mas já não sou o mesmo:
os números observaram as minhas idades e talvez 
pudesse agora marcar este que não me diz nada
e contar tudo a alguém que não se lembra de mim.


Pedro Mexia

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