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sábado, 4 de julho de 2020

A Verdadeira coragem humana

Se estás disposto a nunca usar da violência, 
e sempre resistindo, torna-te forte de corpo e de alma; 
é a mais difícil de todas as atitudes; exige a constante 
vigilância de todos os movimentos do espírito, o domínio 
completo de todos os impulsos dos nervos e dos 
músculos rebeldes; a agressão é fácil contra o medo 
e também a primeira solução; para que, em todos os 
instantes, a possas pôr de lado e substituí-la pela 
tranquila recusa, não te deves fiar nos improvisos; 
a armadura de que te revestes nos momentos de 
crise é forjada dia a dia e antes deles; faz-se de 
meditação e de ginástica, de pensamento definido 
e preciso e de perfeitos comandos; quando menos 
se prevê surge o instante da decisão; rápida e firme, 
sem emoções ou sufocando-as, tem que trabalhar 
a máquina formada.
Que trabalhar, sobretudo, humanamente; 

a visão do autómato é a pior de todas para os amigos 
do espírito; não serão teus elementos nem a secura, 
nem a estóica dureza, nem o ar superior, nem as 
cortantes palavras; requere-se no inabalável a humanidade, 
o sorriso afectuoso, a íntima bondade, a desportiva calma, 
amiga do adversário, de quem joga um bom jogo; 
sozinho guardarás as lutas interiores que tens de suportar, 
a batalha contínua para impores o silêncio aos instintos 
de ataque e da vingança; será tua boa auxiliar a pele dura 
e uma carne que, domada, suporte, sem revolta, as provações 
e os trabalhos; o óleo do ginásio ajuda Marco Aurélio; 
quem se adivinha senhor de si melhor resistirá sem violência 
a tudo o que inventou a real fraqueza do contrário; 
e só tem que se guardar dos perigos da altivez e do desprezo.

Agostinho da Silva, in 'Considerações e Outros Textos'


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