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sábado, 22 de janeiro de 2022

Corro Após este Bem que não se Alcança

Oh como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano! 


Minguando a idade vai, crescendo o dano;
Perdeu-se-me um remédio, que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano. 


Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio, e perco a confiança. 


Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo a ver se inda aparece,
De vista se me perde, e da esperança. 


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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