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sábado, 17 de novembro de 2018

Pensamentos de Clarice Lispector ( IV )

Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.

Fique de vez em quando só, senão você será submergido.
Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.

Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada.

E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço.

Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim.

O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. 
O amor já está, está sempre. 
Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.

Tenho várias caras.
Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo.

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdoo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.


Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno voo e cai sem graça no chão.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.

A palavra é meu domínio sobre o mundo.

Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo entendimento.
Renda-se como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. 
Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.

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