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sábado, 10 de novembro de 2018
Pensamentos de Clarice Lispector
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Sim, minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes
ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Já que se há de escrever... que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
E umas das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida.
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente.
O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.
Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem,
e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.
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