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domingo, 7 de julho de 2019

Funerais

Nos funerais encontramos a família.
Nunca fomos tão claros como no luto
e nas memórias anedóticas que amenizam o morto.
          Que sangue é o teu
para que o meu se assemelhe?

Alguns velhos trazem flores
que já ofereceram nos casamentos
e entre eles decidem que somos uma família,
conhecem os primos que não
conheço, lamentam a sorte
daqueles cuja sorte é conhecida,
são ainda mais graves do que nós, e usam
diminutivos carinhosos.
         O meu nome far-se-á pó
com o meu corpo, pensa
uma mulher que já é viúva,
há irmãos completamente mudos
e as crianças jogam à cabra-cega.
Seguimos em cortejo compondo as gravatas,
o vento não percebe que morreu gente.
Dez pessoas acompanham o padre,
os outros já não se lembram das orações,
dez pessoas pensam no que têm pela frente,
os outros acompanham o caixão.
O coveiro mais novo
          dentro de pouco tempo
enterrará o mais velho.


Pedro Mexia 

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