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domingo, 7 de julho de 2019

Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen


O VELHO ABUTRE
O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

Sophia de Mello Breyner Andresen | "Livro Sexto", 1962

APESAR DAS RUÍNAS
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
 
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Antologia Poética'
  
25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
 
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'

OÁSIS
Penetraremos no palmar
A água será clara e o leite doce
O calor será leve o linho branco e fresco
O silêncio estará nu - o canto
Da flauta será nítido no liso
Da penumbra 

Lavaremos nossas mãos de desencontro e poeira 
Sophia de Mello Breyner Andresen | "O nome das coisas", 1977

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